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Crítica sobre o espetáculo "Prisma do Progresso"

12 de outubro de 2014

 

Hoje pela primeira vez subi as ladeiras de Santa Teresa. Através de seus paralelepípedos e linda gente, ela me povoou de sonhos e poesia. Me trouxe lindas vistas e a certeza que voltarei mais vezes.
Neste mesmo dia tive o prazer de ter as vistas preenchidas por seis jovens. Seis jovens e seus corpos e cores. Suas vozes, sua vontade. Sua verdade se emanando por palavras e afetando a nós ali sentados. Machucou, encantou, fez sorrir e trouxe lágrimas. 
Chico César, em uma linda música, disse uma linda frase: “O carneiro sacrificado morre. O amor morre. Só a arte não.” Existe ainda a beleza de frase que diz: “Tudo o que move é sagrado.” E é! A criação é sagrada, aquilo que é de verdade, o que vem do profundo da gente. 
É bonito ver meninos assim novos pondo nosso progresso em um prisma e assim explorar seus aspectos. Fazer um balanço, estimular a crítica, o questionamento. A carne está na mesa, mas qual o preço dela? Não em cruzeiros, cruzados ou reais; mas o quanto de nós morre para que aquele pedaço de comida possa nos alimentar? O quão livres somos? Existe liberdade? É uma ilusão, utopia? A arte não deve trazer respostas, e sim perguntar.
Houve três momentos que me marcaram bastante do espetáculo. O primeiro, e talvez mais forte a mim, foi a morte da justiça. Ao lhe tirar a venda, a justiça estava morta (e havia sangue em seus olhos, tamanha a violência do ato!). E suas irmãs sofreram a mesma dor. Embora independentes os poderes, qual o sentido do legislar e do executar senão a promoção da justiça? Achei fantástica sua escolha como diretor (Nathan Braga) o modo como mostrou a morte da Justiça. Você poderia ter escolhido a violência física, ou qualquer outra, mas lhe retirou a venda. E o que vivemos senão uma justiça com olhos abertos e interesses declarados? Uma escolha muito acertada!
O segundo momento que mais me impressionou no espetáculo foi o embate de seu personagem com o personagem do Thiago Saraiva. Foi terrível e assustadora, como é a dominação dos fortes sobre os fracos. Tinha verdade no que vocês diziam. O idealismo do personagem dele, e a dureza do seu modo de dizer as palavras, de senti-las boca a fora. A violência das palavras, somada à força estética do seu pé sobre as costas dele, em embate corpóreo, fez aquela uma cena de ode à arte: só a arte atinge a poesia com a bestialidade.
Já que estou cometendo o abuso de lhe dizer minhas impressões, não nego que em alguns momentos desta cena, achei o texto um tanto piegas. O personagem do Thiago tinha um discurso altruísta, de preocupação com os rumos da sociedade. Mas pondo a sociedade acima dele, como se o bem estar social fosse mais importante que o bem estar dele. Entendo que seja um personagem idealista, e como (essa foi minha impressão) esse era um texto de arquétipos, e talvez por isso essa minha crítica seja infundada, mas não nego que assim me pareceu ao assistir ao espetáculo.
A iluminação, principalmente na cena final, muito me agradou. Maquiagens e Figurinos me pareceram irretocáveis. A sonoplastia (adoro quando os próprios atores fazem a sonoplastia, isso me lembra o teatro de Aderbal Freire Filho) foi um ponto alto do espetáculo. Me arrepiou aquele som produzido pelo girar de algo (talvez uma borracha) em uma cena de dominação. Aquilo me causou medo, parecia que a qualquer momento haveria uma chicotada.
A temporada acabou. E agora? Andar pra frente, porque é pra frente que se anda. E o caminho da Cia ainda é longo. Obrigado aos seis lindos seres pelo espetáculo. O teatro pra mim é um templo de milagres. Hoje vocês honraram esta definição. Emanaram verdade e vontade.
Evoé, jovens atores!
“O fim não é quando a estrada termina”
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Victor Maia

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